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Diálogos do Vestir #10 - Hanayrá Negreiros

Diálogos do Vestir #10 - Hanayrá Negreiros

2023-03-08

 

“[...] A ancestralidade é clivada por um tempo curvo, recorrente, anelado; um tempo espiralar, que retorna, restabelece e também transforma, e que em tudo incide. Um tempo ontologicamente experimentado como movimentos contíguos e simultâneos de retroação, prospecção e reversibilidades, dilatação, expansão e contenção, contração e descontração, sincronia de instâncias compostas de presente, passado e futuro.” Leda Maria Martins

 

Hanayrá Negreiros, filha de Oxum e Obaluaiê, é regida pelas águas doces e pela terra. Pela cura e pela feminilidade. Seu lugar de aterrar foi o habitat escolhido para este Diálogos do Vestir #10. Sua redoma de devaneios e potências femininas. Um sítio no interior de São Paulo, onde seu vestir se potencializa no ser livre e na fluidez do pisar na terra.

Pesquisadora e educadora, foi curadora adjunta de Moda do MASP e colunista da Elle e hoje está imersa em sua pesquisa de doutorado em história na PUC-SP estudando o vestir de mulheres africanas no Maranhão do século XIX.

Neta de costureiras e alfaiates, paulista pelo lado materno e maranhense pelo paterno, carrega em sua essência as múltiplas camadas de histórias e rituais de seus ancestrais. E não a toa sua pesquisa mergulha nas estéticas africanas e afro-diásporicas que se manifestam pelo vestir. Vestir este que, para Negreiros, vem como uma herança de família e está para além da moda. "Existe toda uma construção de uma identidade de uma pessoa negra a partir do vestir dela. Tive a sorte de crescer rodeada por um movimento da moda, da costura e isso foi moldando meu imaginário desde sempre. Quando pequena, desenhava roupas e fui estudar moda e não gostei muito, porque não se falava de ancestralidade, de estéticas africanas, estéticas negras. E isso para mim é fundamental. Existe a estética dos adereços como escrituras no corpo.” Olhar para moda é também reconstruir e reconstituir histórias. Ela é memória e identidade. Passado e Futuro.

Mais do que uma mulher que olha para o futuro, está sempre olhando para trás, para o que se acumula em nossos corpos. O que carregamos de ventres passados? Nossa mãe, nossa avó, nossa bisavó? A ancestralidade como algo vivo que nos acolhe e nos veste é uma de suas indagações da vida. "Tempos que se complementam, tempos espiralares" disse. "Um tempo circular que foge da ideia de um tempo cartesiano ocidental." Totalmente influenciada pela mãe em seu vestir, reflete sobre a construção da identidade negra através do que se escolhe como um manto no corpo.

"Reflito o que é ser mulher a partir do meu lugar no mundo como mulher, negra, brasileira nascida no Sudeste e com influências paulistas e maranhenses. Pra mim ser mulher é poder estar viva e aprender diariamente a viver da melhor maneira possível, com saúde, beleza e luz no meu caminho."

"Eu parto do lugar, individual e coletivo de que a roupas que escolhemos comunica. Definitivamente vestir é comunicação. Uma comunicação não verbal. O têxtil pode ser texto. Hoje banco mais o que eu gosto. Roupas fluidas, com movimento, que me deixam livres, permitem o enganchar ao caminhar. Adoro andar e sentir que a roupa está voando. E As roupas da Flavia são livres. Me deixam livres. Meus movimentos são livres. São o minimalismo na complexidade. A roupa que escolho tem tanto a ver com as minhas emoções...Se um dia decidir vestir preto, é porque algo está desalinhado internamente." 

Negreiros acredita que o vestir é um ritual que praticamos todos os dias. A costura, por exemplo, profissão de sua avó Teresinha era uma reza. "Lavar a roupa também é um ritual. E a Flavia faz a gente pensar nisso. Existe o tempo da roupa. O tempo da feitura, o tempo do corpo e o tempo da lavagem. Adoro isso na marca. O tingimento natural e essa roupa que vive, que acontece e exige um tempo de cuidado. Beleza e funcionalidade não se separam."

Turbantes e panos da costa, heranças das indumentárias africanas e do Candomblé são pontos fortes de suas escolhas para além do terreiro que frequenta há anos. O turbante tem uma função litúrgica, que é proteger o ori (a cabeça), local sagrado onde habita a divindade e energia de cada indivíduo. “Na rua, muitas vezes quando visto o turbante, é porque me veste e é belo e para me proteger se for preciso.”

Atravessada por palavras e artes, carrega o livro de Aline Motta e Leda Maria Martins como guias. Ambas trazem a ancestralidade como o cume de um pensamento, como uma linha que nos segue e nos conecta a todo o antes e o depois de existir. Hanayrá como um prolongamento autoral de outras camadas femininas de sua história. Um acúmulo de desejos e vivências. A água é uma máquina desse tempo espiralar. Origem e caminho de Negreiros.

Hanayrá: E quais são os ventos que te sopram, Hanayrá? 

"Os ventos ancestrais. É como se eu escutasse as mais velhas falando comigo o tempo todo."

 

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