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Diálogos do Vestir #9 - Sallisa Rosa

Diálogos do Vestir #9 - Sallisa Rosa

2022-10-20

Sallisa Rosa é artista visual indígena e nossa convidada da edição #9 do Diálogos do vestir. Nascida em Goiás e atualmente residente do Rio de Janeiro, sua prática artística circula entre instalações e obras participativas, além de fotografia e video, explorando a arte como caminho, a partir de experiências intuitivas ligadas à ficção, ao território e à natureza. Além disso, a artista se debruça sobre imagens relacionadas a temáticas como memória e identidade; narrativas de descolonização e estratégias de criação de futuro.

Sua pesquisa mais recente, apresentada em América, sua primeira individual do MAM Rio, investiga a materialidade da terra, que guarda a memória de tudo que já passou e está registrado no solo: pessoas, bichos, plantas e rochas.

“A terra é um pó mágico que protege as recordações em monumentos. É onde se firma o pé pra erguer o corpo. Se a minha herança é um fardo, eu vivo o destino pelo instinto e, para honrá-la, eu celebro a memória com o corpo”.

Nesta entrevista, ela conta um pouco mais sobre essa trajetória como artista, as relações com as práticas e materiais e como isso se conecta às suas identidades e memórias.

A fotógrafa Luisa Macedo registrou Sallisa em processo com o barro, vestindo os novos linhos da coleção Olho D’Água. 

Me conta um pouco da sua história. Onde você nasceu, viveu, seu caminho até chegar aqui. 

Nasci e me criei em Goiânia e uma parte no interior do Mato Grosso. Tenho como referência a terra vermelha, o centro-oeste, o bioma cerrado. Me identifico com as árvores do cerrado, porque elas são baixas, mas tem as raízes especialmente longas, quando deixei o cerrado eu precisei de fortalecer as minhas raízes, e justamente o que tem me ajudado muito é o processo de enraizamento, algo que trago profundamente ao meu trabalho.

Atualmente moro no Rio de Janeiro, e comecei a minha prática artística aqui, em 2018 na exposição Dja Guata Porã: Rio de Janeiro Indígena, que aconteceu no Museu de Arte do Rio, com a instalação participativa Oca do Futuro.

Como o vestir se conecta com a sua vida? 

O meu cotidiano é bastante fluido, percorro diferentes mundos, então gosto de roupas confortáveis. Acredito em uma relação intrínseca entre cultura e roupa, vestir também é identidade, eu fico mais serena se consigo alinhar os propósitos que acredito com a maneira como eu me visto.

Entendo também que é um privilégio poder acessar roupas que vem de um processo artesanal, e que isso envolve outra lógica de produção, pesquisa, e que naturalmente tem outro tempo. Sempre que posso compro roupas de artistas e criativos indígenas, e roupas que envolvem processos de práticas tradicionais, como o tear, o tingimento, e uma cadeia de produção que geralmente envolve as mulheres.


Quais são os percursos e interesses da sua prática como artista? 

Atuo com a arte como caminho e experiências intuitivas, ficção, território e naturezas. Minha prática circula entre instalações com ênfase em interação e participação, trabalho com a terra em diversas materialidades como cerâmica e barro, também fotografia, vídeo e coleta.

Ela está relacionada a minha experiência e processos emocionais e espirituais que vivo, gosto bastante de trabalhar com coleta, e fazer um reuso criativo das materialidades que já existem, atualmente tenho coletado os galhos da cidade.

Você contou que tem aprendido a técnica da cerâmica a partir de um processo mais lento. Conta um pouco como tem sido. 

Estou aprendendo a arte do barro, é um longo caminho. Mas na minha prática a terra sempre esteve presente. Em 2019 eu fiz colaborativamente o plantio e cultivo de uma horta de mandioca como prática artística. 

Também tenho um trabalho que é o Labirinto, nessa instalação construímos algumas paredes de taipa, conhecido como pau a pique. E em 2021 minha primeira exposição individual que se chama América, foi consagrada a minha vó. Nessa exposição eu me dediquei bastante a cerâmica, construí uma urna da memória grande, e outros 35 potes de cerâmica.

Trabalhei com barro terracota coletado nas cidades de Itaboraí e Seropédica, fiz todos a mão, e para queima nós construímos um forno de tijolos com queima a gás de 10-12 horas. Agora tenho me dedicado a uma jornada de imersão profunda com o barro e com interesse em transformar isso em práticas participativas com queima tradicional de buraco.

O que te interessa no barro de forma mais profunda? 

A terra é o lugar de memória, é onde estão registradas as recordações da história, é pra onde voltaremos, é de onde se planta pra comer e pra onde a semente volta, provavelmente os primeiros utensílios para cozinhar e comer foram feitos em cerâmica, o barro é usado também pra construir casas e ninhos, e até pra pintar, acho que trabalhar a terra é ir na contramão da monocultura como erosão de memória.

Você é uma mulher artista indígena que atua no contexto da arte contemporânea. Como é esta conexão e como isso está presente no que você pesquisa, no que produz, de que forma você visualiza essa identidade no contexto em que vive? 

Sou atravessada por muitas identidades, e cuido para fazer o mesmo movimento de raiz, que é encontrar caminhos, atualmente acredito no caminho da reinvenção, porque a cultura é viva. A minha identidade é a terra vermelha, as árvores velhas, o escuro e a umidade. Eu cuido dos rastros e das pegadas, e tento fazer isso de maneira coletiva. Caminho pela via do ativismo, e busco encorajar as minhas, minhes, meus, e tenho consciência de que independente do ofício ou atuação a luta é por território, a demanda é pelo território, terra e memória, resistência da natureza e dos povos.

O seu trabalho tem desdobramentos em atividades coletivas pedagócias. Como isso acontece na prática? 

Tenho bastante interesse em práticas coletivas e participativas, na minha experiência acredito que práticas tradicionais do fazer artístico envolvem as práticas coletivas, a cozinha da minha casa é o meu espaço de arte, de aprendizado e trocas. Deixo aqui duas sugestões de links: 

O catálogo e o video da minha individual América, que aconteceu no MAM-RJ,  onde aprofundamos mais nas obras expostas e nos desdobramentos para o coletivo.

https://mam.rio/publicacoes/supernova-sallisa-rosa-america/

https://www.youtube.com/watch?v=DjlfJdUbHEA&t=1s&ab_channel=MAMRio

CConheça as peças clicando aqui

 

 

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