O Diálogos do Vestir surgiu da vontade de pensar o vestir de forma ampliada, permeando universos poéticos, criativos e filosóficos, através do encontro com mulheres que admiramos.
Desejamos ouvir suas histórias reais, conectar nossas #roupasvivas às suas individualidades e belezas, aprender sobre suas experiências e sobre como o vestir está presente em suas narrativas pessoais.
Nesta edição #2, convidamos a designer de jóias Diana Córdoba, que incorpora a essência de nossas peças em seu trabalho e seu modo de viver.
Mulher de múltiplos fazeres manuais, Diana nasceu em Bogotá, Colômbia.
Sua trajetória começou com pinturas em cerâmica e gesso, e mandalas feitas em lã equatoriana e madeira.
Em 2016, se mudou para o Brasil, junto de sua família, e diante da dificuldade de encontrar as lãs e as madeiras que costumava trabalhar, se viu desafiada a criar algo novo com outros materiais. Passou então a produzir novas mandalas, pintadas a partir da técnica de pontilhismo em alto relevo, sobre madeiras naturais reutilizadas da sobra de instrumentos musicais, e sobre pedras de rio, pequenos amuletos manuais.
Atualmente, Diana desenvolve jóias em diferentes metais — prata, latão e ouro — a partir de técnicas de ourivesaria.
Inspirada por suas histórias pessoais, memórias e emoções, e também pelas possibilidades da natureza e suas formas orgânicas e delicadas, Diana busca valorizar o fazer manual, tempo lento e cuidadoso, em peças minimalistas, que ativam sentidos e afetos e estimulam um consumo mais consciente, mais conectado com o processo.
Visitamos Diana em seu ateliê, um espaço de delicadezas no bairro de Perdizes, São Paulo, onde cada objeto tem uma história e foi escolhido com cuidado: a memória das coisas é a memória da casa. Ela nos contou sobre seus processos e encontros, vestindo nossas novas peças de linho e tricô, com fotos de Carine Wallauer.
Para conhecer todas as peças, clique aqui.
Qual a sua relação com o vestir?
O vestir pra mim é um jeito de contar histórias, assim como as jóias que busco fazer. O que eu uso, seja uma roupa ou acessório, precisa ser feito com afeto, cuidado, tempo e atenção. Gosto de me conectar com aquilo que visto, saber sua origem, as memórias por trás de cada objeto.
O vestir também é criação e conexão: expressar através de matérias, formas, cores, texturas e possibilidades da natureza, como nas roupas da Flavia Aranha.
Suas jóias expressam quem você é, as histórias que viveu ou que deseja viver?
Sim, cada peça tem minha essência e fala muito do que eu sou. Eu sou inspirada por sentimentos e sensações, e minhas jóias refletem e projetam tudo que sinto. Eu tento mostrar isso em toda a experiência da peça: do processo de produção, passando pelo design e escolha de materiais, até a embalagem, as imagens e a maneira como me relaciono com as pessoas que compram o que produzo: desejo sempre que as relações sejam mais humanas e mais conscientes, na minha vida e no que crio também.
Conta da sua trajetória: onde começou a sua relação com o design de jóias?
Eu comecei trabalhando com pintura sobre peças de cerâmica e gesso, especialmente cofres artesanais. E experimentei fazer mandalas de lã equatoriana, ainda em Bogotá.
Quando cheguei no Brasil, tive dificuldade de encontrar esses materiais e acabei me reinventando. Passei a pintar usando a técnica de pontilhismo, e isso foi se desdobrando em superfícies de madeira reutilizada de sobras de instrumentos musicais, depois sobre pedras de rio, quando quis produzir pequenos objetos-amuletos que carregavam energia e intenção.
Dos objetos decorativos fui para os objetos vestíveis, pois tive vontade de criar peças mais delicadas, onde os sentimentos e histórias fossem carregados no corpo e a pessoa pudesse se conectar ainda mais intimamente com eles.
Produzi brincos e colares pintados sobre madeiras nobres, sempre de sobras de produções, e decidi aprender técnicas de ourivesaria, pois queria complementar minha produção, trazendo novas possibilidades e elementos estéticos às joias. Fiz as primeiras correntes de prata, pois queria que tudo fosse feito do zero, por mim, não de modo industrial, e depois passei as criar diferentes peças em prata, latão e eventualmente ouro, às vezes até com cerâmica.
Meu processo sempre foi muito fluído, baseado em curiosidade e experimentação. Me permiti, me ouvi e migrei para as jóias.
A criação artesanal de peças tão delicadas me permite propor uma relação mais afetuosa com o que consumimos e vestimos: escrever uma história pessoal com cada objeto.
Como é o seu processo criativo?
Meus métodos são muito orgânicos. Eu costumo pensar no design que desejo desenvolver, nas cores e texturas, e a partir daí, trabalho direto sobre o material. Não faço desenhos nem testes antes, vou criando enquanto experimento e descubro as possibilidades do material e das técnicas.
As matérias-primas assim como as formas, cores e movimentos da natureza perfeitamente imperfeita, me inspiram muito.
Tenho um relação de respeito com os materiais que trabalho, eles são o início de cada criação.
A jóia também é um vestir?
Sim, elas são pensadas como objetos de memória e afeto. Quando as produzo, penso que elas devem acolher e se conectar ao corpo e à história da pessoa que a veste, se envolvendo com o todo, compondo também com as roupas, de maneira harmoniosa e confortável.
De que maneira você pensa o processo do design de jóia como algo sustentável dentro de uma cadeia de consumo?
Acredito no consumo consciente a partir do vínculo afetivo que podemos criar com os objetos, conhecendo a história de quem produziu, aprendendo sobre os processos de produção, valorizando o fazer e os materiais, conhecendo os propósitos e intenções depositados ali. Desta forma, nos conectamos com esses objetos e suas memórias, tornando-os mais importantes e menos descartáveis. Também me preocupo em produzir peças de qualidade, que sejam duradouras, atemporais, confortáveis e que estimulem um prazer e bem-estar no vestir. Valorizo as matérias-primas e suas origens, e me preocupo em ter um processo responsável, que gere impactos mais positivos. O tempo da manualidade de cada jóia é lento e atencioso, assim como todo o processo das roupas vivas da Flavia Aranha.
Você sempre se interessou por fazeres artísticos que envolvem terapias e processos de cura?
Eu passei a me interessar mais por processos artísticos e criativos quando engravidei. As terapias e processos de cura só surgiram quando me mudei pro Brasil. Estar sozinha, quer dizer, longe da família e dos amigos, em um país diferente, com uma cultura e língua diferentes, foi um desafio.
Eu tinha tido contato com mandalas pintadas e mandalas de lã na Colômbia. Mas como tive dificuldade em dar continuidade, por conta dos materiais específicos do meu país, acabei me reinventando, unindo a técnica de pintura em pontilhismo sobre madeira e pedras, criando um novo tipo de mandala.
O processo de produção é minucioso e lento, demanda tempo e abre espaço para uma experiência de reflexão e entrega, a partir do fazer manual.
Então comecei a fazer essas mandalas com fim terapêutico, dando aulas e workshops voltados para a imersão e autodescoberta, meditação e cura.
Foi uma experiência importante, para encontrar e conhecer as histórias de diferentes pessoas, e escrever uma nova história pessoal. Participei de processos emocionais muito fortes, de mulheres que, através dessas manualidades, buscavam se recuperar de doenças, separações, diferentes situações traumáticas.
Os colares-difusores chamados “Cuidado” são suas peças mais famosas. Como surgiu sua relação com a aromaterapia?
Fui conhecendo os óleos essenciais e aromaterapia no Brasil e me encantei pelas suas potencialidades vindas da natureza. Sou muito conectada aos aromas botânicos, de plantas e flores, que me proporcionam serenidade e bem-estar. Comecei a desenvolver jóias manuais que também tivessem um fim terapêutico, depois da experiência com as mandalas. O colar-difusor expressa o cuidado que a aromaterapia nos proporciona: o autoconhecimento, o equilíbrio e bem-estar, a conexão com nosso ser interior.
Desejei que tudo isso fosse possível em um pequeno objeto feito com amor e cuidado.
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Texto: Maria Beatriz Machado