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Diálogos do Vestir #4 - Gabriela Barretto

Diálogos do Vestir #4 - Gabriela Barretto

2021-09-24

Diálogos do Vestir nasceu da nossa vontade de sentir e inspirar o vestir a partir de todas as suas sensações, no fluir da vida que surge de encontros poderosos com mulheres que amamos, admiramos e celebramos. Nesta edição, mergulhamos no universo de cores e sabores da cozinheira e empresária, Gabriela Barretto. 

Gabriela descobriu sua vocação de artista do alimento quando estava terminando a faculdade de Letras na Unicamp. Apesar da literatura ser parte essencial da sua vida, desde criança, foi na Gastronomia que ela sentiu o arrepio da força das coisas que tem de ser. Foi estudar na Cordon Bleu, na França, e desde então segue criando sabores que celebram a potência da natureza. 

Dona dos restaurantes Chou e Futuro Refeitório, ela nos contou como suas receitas nascem, como ela se relaciona com o vestir e fluiu na força do algodão ganga tecido na forma das nossas roupas vivas durante esta sessão de fotos feita por Guilherme Galembeck.

 

Como é a sua relação com o vestir?

Com certeza o vestir é uma forma de me expressar no mundo. Eu acho que a roupa fala por nós. E muitas vezes ela fala o que a gente quer falar, sobre nós. Vestir pode ser muitas coisas e eu acho que eu não tenho uma forma só de me relacionar com o vestir, eu tenho várias, e dependendo do momento eu acabo usando cada uma delas. Tem dias que eu realmente me preparo para o que eu sei que vou viver, se eu vou andar muito é importante estar confortável e isso vai influenciar muito as escolhas que eu vou fazer. Mas também existem outras ideias, por exemplo, se eu estou precisando me sentir forte, em uma determinada situação, como uma reunião de negócios, onde as coisas podem ser um pouco mais tensas, um pouco mais hierárquicas e eu preciso me sentir poderosa vou escolher determinadas roupas que façam eu me sentir mais segura de mim.  

Eu cresci com o exemplo da minha mãe, que sempre estava muito bem vestida, maquiada, bem arrumada, eu cresci reparando no jeito que ela se arrumava, em como se vestia, e fui também, ao mesmo tempo, me dando conta de como era agradável encontrar alguém no meu dia que tinha se arrumado, que tinha colocado um pouco de tempo do seu dia ali para escolher uma roupa, arrumar o cabelo, estar bonita. Eu sempre me alimento desse tipo de cuidado que o outro tem para si e para os outros, é uma coisa que eu acho muito gostosa. É algo que eu procuro fazer, mas é claro, que não é todo dia que a gente está com energia para isso, e eu acho importante respeitar os dias que a gente não quer se arrumar também, a gente não tem que se obrigar a nada. Tem dias que eu acho importante estar bem arrumada com uma roupa bem escolhida e tem dias que eu sinto que é mais importante eu sair para resolver o que eu preciso, bem básica. 

 

Como você relaciona o seu estilo com a gastronomia? 

Eu acho que o meu estilo vai da gastronomia pro vestir e do vestir para gastronomia sim. Eu sou uma pessoa muito estética e muito visual. Os espaços físicos são muito importantes para mim, como eles são decorados, como eles são arrumados. É uma coisa que eu gosto muito de fazer tanto na minha casa, quanto nos meus restaurantes, cuidar da decoração e da arquitetura, até onde eu consigo obviamente. Eu sinto que a parte estética das coisas é algo que me toca muito e eu cuido muito tanto no Chou como no Futuro. 

Inclusive os uniformes do Chou fui eu que desenhei, eu que pensei como eles iam ser desde o início. Eu tenho muito prazer e muita satisfação em cuidar de todos esses detalhes e eu sinto que o meu estilo de me vestir no dia a dia ele também tem muito disso, uma vontade de olhar com cuidado e alguma sensibilidade na hora de escolher as peças que eu gosto. Ao mesmo tempo, tudo é bem simples, eu não sou uma pessoa do universo fashion, não tenho um consumo de roupas exorbitante, eu gosto de ter boas peças, bonitas, que eu vou usar muito. 

Eu estou cada vez mais caminhando para esse lugar, querendo ter menos roupas e mais peças que eu amo muito, e eu acho que a minha cozinha é assim também. Ela tem uma simplicidade de poucos ingredientes, mas eu sempre trabalho com coisas que eu gosto muito, então eu acho que tem uma relação bem forte aí. 

Como é o seu processo criativo na cozinha?

Meu processo criativo é difícil de explicar, eu não sei direito como descrever, eu acho que tudo começa com um desejo. Meu ponto de partida é sempre uma coisa que me dá vontade de comer e sempre começa na minha cabeça. ‘Se eu juntar isso com aquilo eu acho que fica gostoso’. A minha criação passa muito pelos meus desejos pessoais, e coisas que eu gosto de comer, então você raramente vai ver no cardápio de algum restaurante meu algum prato que eu pessoalmente não curto. 

O desejo é o meu fio e eu acho que obviamente ele é influenciado por muitas coisas, o nosso desejo nunca está solto no espaço, ele é incendiado por coisas que a gente vê, imagina, coisas que a gente come em algum outro lugar. E as minhas inspirações vão desde filmes que eu vejo, outros livros de cozinha e até alguma coisa que eu vi no Instagram e me instigou, e me deu uma ideia para alguma outra coisa que pode ficar legal no cardápio. 

E como a minha gastronomia tem uma simplicidade técnica eu falo que muitas vezes o que eu faço é um um trabalho de curadoria. É um pouco assim, eu penso que o sabor de uma berinjela queimada vai casar bem com a doçura e o salgadinho lácteo de uma burrata, então primeiro esses sabores acontecem na minha cabeça e depois eu vou para a parte prática, que é onde eu descubro se essa intuição estava certa. Às vezes quando a gente coloca no prato os sabores não combinam tanto, às vezes falta alguma coisa, ou então na hora que você está montando você tem um ideia e sente que aquilo pode complementar, é um processo complexo, eu acho que tem muitas camadas, mas é basicamente isso. 

 

Como as cores te inspiram na cozinha?
E no seu vestir? 

As cores me inspiram muito na cozinha e também no vestir. Eu acho que elas são muito importantes tanto em um universo quanto no outro. Por exemplo, uma coisa que é fundamental na minha comida é que ela seja fresca, ter uma vibrância. A maioria dos meus pratos tem elementos de sabor, mas também elementos visuais que trazem essa sensação de frescor. E essa é uma sensação tanto do paladar quanto visual. Muitas vezes escolhemos os ingredientes pela sua paleta, por exemplo na hora de criar uma salada super colorida, e vamos pensando de uma forma quase orgânica em como o encontro de certos ingredientes funcionam juntos no prato. 

Você se relaciona com a natureza através dos seus ingredientes? Como você encontra o tempero perfeito? 

Pra mim cozinhar é, antes de tudo, antes de mais nada, essa relação com a natureza. É você pegar um produto natural, vivo, um ingrediente que está disponível ali e transformar aquilo em um alimento. E eu acho que esse processo de você ver aquele alimento crescendo, colhê-lo, pensar como você vai prepará-lo, para mim é a parte mais agradável e mais poética da cozinha. É uma das partes que me dá mais prazer, esse colher, o plantar, toda a parte que vem antes do cozinhar me dá muita alegria, então para mim uma coisa é indissociável da outra. Comer e se relacionar com a natureza, colher e cozinhar caminham juntos. 

E eu acho que a minha culinária deixa isso evidente, pelo respeito que eu trato os ingredientes, pelo destaque eu dou para eles de uma maneira muito protagonista. Eu chamo isso de “fitoromanticismo”, eu sou uma “fitoromântica, eu tenho uma relação de encantamento com o mundo vegetal, com as formas botânicas e isso tudo me traz retornos afetivos, me dá muita felicidade segurar na mão uma folha de acelga amarela, com suas veias todas enrugadas. Isso é a base da minha cozinha, a base do meu sentir gastronômico.  

 

O que você sente quando está cozinhando?

O que eu sinto quando estou cozinhando varia muito, às vezes eu sinto fome (risos), às vezes eu sinto prazer de estar chegando em um lugar gostoso, e fico empolgada pensando que vai dar muito certo, mas eu acho que a maior parte do tempo o que eu sinto é um pertencimento, sabe? Uma sensação de eu pertenço a esse lugar, que eu estou onde eu deveria estar. 

 

  

Quando você descobriu que a gastronomia era o seu talento, a sua vocação, o seu desejo?

Eu sempre fui uma cozinheira amadora, desde criança, eu sempre cozinhei de forma investigativa e exploradora, para me divertir, mas eu só comecei a pensar nisso mais seriamente no final da minha faculdade. Eu estava estudando Letras na Unicamp e me questionava muito se eu queria seguir com aquela profissão. E foi nesse momento que a gastronomia surgiu como uma possibilidade de caminho, de levar esse desejo, essa vontade pessoal, esse divertimento adiante e transformá-los em uma profissão. 

Eu nunca tinha trabalho em uma cozinha, nem imaginava como isso podia ser, e resolvi fazer um curso na França para ter essa vivência mais profunda e conectada com esse universo. E eu lembro muito claramente que foi exatamente ali, durante o curso que eu descobri que era aquilo mesmo. Eu não tive mais dúvidas. Durante a minha faculdade de Letras eu não sentia que aquilo era o que eu ia fazer, não tinha um prazer, um sentimento de revelação, e na gastronomia eu me senti feliz, não tinha preguiça de ir para as aulas, tinha zero resistência em acordar cedo ir para a cozinha e ficar lá o dia inteiro, eu acho que foi nesse momento que eu me dei conta de que aquilo era algo que eu queria muito fazer.

Cozinhar as suas comidas vivas é também uma alquimia? Como você sabe que chegou no ponto certo de uma receita quando você está criando? 

Eu acho que cozinhar e chegar no ponto certo é sempre um desafio, acredito que para todo mundo que lida com a criação de alguma forma, que horas você para, quando você continua? Eu fico pensando que sempre podemos colocar uma coisa a mais, e continuar aquele processo, mas uma das coisas que me guia muito é a simplicidade, então eu tento parar antes, parar no ponto certo. No ponto certo para mim, é claro, talvez não seja o ponto ideal para outras pessoas. É uma questão de paladar, quando a gente coloca na boca e sente que aquilo ali faz sentido, às vezes tem dois ingredientes, às vezes tem três e já é suficiente, deu certo, funcionou. Eu acho que é uma questão de prática, e um olhar atento para o meu estilo, e acho que também é intuição, muita intuição também, para aprender a saber quando parar e quando chegamos no ponto. 

 

Como começou o Chou e depois o Futuro Refeitório?

Eu abri o Chou em 2008, ele foi o meu primeiro restaurante, o meu primeiro projeto, era uma coisa muito pessoal. Era para ser bem pequeno, na época eu morava no andar de cima, então a minha ideia era ter uma casinha onde tivesse uma cozinha com uma churrasqueira e um jardim. Eu ia fazer várias coisas nessa churrasqueira, ia ter uma música gostosa, as pessoas iam sentar no jardim, ia se sentir jantando na casa de um amigo. E essa experiência foi pensada para girar em torno do conceito de mezzes, que são essas porções pequenas que chegam na mesa para dividir entre as pessoas que estão ali sentadas. 

Dez anos depois, em 2018, eu abri o Futuro Refeitório, que foi um projeto muito diferente com uma outra cara, uma outra proposta, que nasceu de uma vontade muito grande de ter um lugar que funcionasse de dia, que fosse diurno, que tivesse uma energia solar. Eu tenho um amor muito grande por lugares antigos, intocados na cidade, obras decadentes e belas que tem uma história que tem um passado. O galpão Futuro por exemplo foi uma fábrica de estátuas de bronze, chamava Bronze Rebelatos, eu lembro da primeira vez que eu entrei lá e achei incrível, me apaixonei. E eu quis muito aproveitar esse espaço e fazer uma ocupação dele. Não mudar as paredes, não mudar o teto, deixar a pintura de estacionamento, como uma forma de contar essa história, de que as coisas vão se transformando, e que a gente não precisa apagar a história delas pra transformá-las em uma coisa diferente. 

No Futuro Refeitório lemos que "...a melhor maneira de adivinhar o futuro é criá-lo", como você imagina o futuro dos alimentos e qual o seu sonho na cozinha? 

O nome do Futuro Refeitório tem muito a ver com essa ideia de como vai ser o futuro. Eu leio muito sobre alimentação, da importância do respeito ao meio ambiente e a gente sabe o que o consumo de proteína animal, do jeito que ele é feito hoje em dia com a pecuária intensiva, ele é muito danoso para o meio ambiente, e já existe um consenso que a gente precisa reduzir o nosso consumo. Quando eu abri o Futuro eu pensei, bom por que não já começar a direcionar a alimentação para esse lugar? Para que as pessoas saibam que elas não precisam ter uma proteína animal em cada refeição e que elas podem ser muito felizes comendo plantas e vegetais. 

E eu acho que é isso, o meu sonho para a alimentação, o meu sonho de fadas colorido, seria que as pessoas tivessem mais contato com o produto in natura, mais contato com o produtor, mais contato com o campo. Se aproximassem mais dessa rede de produção que é tão rica e ao mesmo tempo ensina tanto e tem tanta potência para ensinar lições básicas que a gente precisa para viver em uma sociedade.  Descobrissem o quão recompensador e reconfortante é você plantar e você colher, e sentissem essa conexão no prato, na hora que elas consomem o alimento. Eu acho que entender o ciclo inteiro do seu alimento tem um poder muito transformador. 

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Texto: Mariana Caldas 

 

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